sábado, 24 de dezembro de 2011

NOITE DE NATAL

solidariedade

Palavras doces são ouvidas a todo instante,

felicitações daqui, felicitações dali...

Pessoas no corre-corre;

Comemora-se... Felicita-se...

E eu aqui na companhia de mim mesmo!

Elevo então meu pensamento aos céus

e minha vida vem como um filme...

Lembranças da mais tenra idade!

De uma época que um brinquedo simples me fazia a alegria...

Em uma época em que tudo era festa!

Uma época que sorrir era meu vicio,

Chorar só se fosse por uma dor no corpo...

Uma época que eu acreditava na bondade dos homens...

Uma época em que eu acreditava na esperança!

Reunidos ali com outros eu me via,

Alegria, alegria, alegria...

Eita tempo que bem longe vai!

Sorriamos e brindávamos...

E a todos felicitávamos!

Nem sequer nos lembrávamos dos que lá fora choravam...

Promessas ali eram feitas na noite,

promessas já esquecidas na manhã seguinte...

Vivíamos no nosso egoísmo infinito!

Na minha inocência de criança

tudo isso achava bonito!

Como era lindo ter esperança!

Nessa época eu tinha amigos,

hoje eu tenho a solidão por companhia,

Todos seguiram seus caminhos...

Hoje em lugar de amigos tenho inimigos...

Os amigos se foram em suas jornadas,

não olham mais para traz,

talvez para não lembrar desses saudosos tempos

e dos que eles esqueceram...

Amizades eram eternas ali naquele momento,

Hoje não passam de vagas lembranças

que submergiram no esquecimento...

Olho para o lado e vejo meu reflexo no espelho,

o único sinal de gente aqui!

Assim como o sol brilha solitário no céu,

ou a Lua sozinha no cosmo,

assim sou eu hoje...

Uma folha ao vento,

que segue sem rumo,

por uma estrada desconhecida;

minha bagagem é a lembrança que carrego,

em um tempo que a alma não gemia,

e meu ser não desejava outra vida!

Sigo pelo tempo, sem pressa,

aonde eu chegar eu cheguei!

Ali mesmo farei minha tenda

e quando o tempo ruim ficar

a estrada de novo eu vou encarar!

Mais uma vez e tantas outras que preciso for...

Ate em outro repouso seguro chegar!

Noite que deveria ser feliz...

Mas como ser feliz

se em algum lugar o faminto clama por um pedaço de pão

enquanto aqui há desperdício...?

Como a noite me poderia ser feliz

se sei que em algum lugar uma criança chora

pela saudade de seus pais que se foram?

Como estar feliz hoje

se em alguma sarjeta a mãe chora

pelo filho que se foi e não volta mais?

Como imaginar uma noite feliz

se em algum cativeiro

o injustiçado sofre pelo crime que não cometeu?

Ou mesmo ao lembrar do pedinte que não ganhou seu presente?

Como imaginar uma noite feliz

se os amantes estão separados

e seus corações estão tristes e angustiados?

Como a noite pode ser feliz

se me lembro dos que já não podem ver?

Ser feliz como

se nas calçadas dormem os que não tem teto?

E ao relento vivem muitos

que já não sabem o que é um afeto?

Óh, digam-me se puderes...

Como ser feliz enquanto muitos choram

pois não há quem console...

Suas almas que estão feridas

pois suas alegrias estão perdidas?

Enfim... é noite de natal!

Eu aqui solitário em meu mundo real

vejo as horas passarem...

E logo será dia!

Manhã do dia 25!

Ai o hoje será ontem...

São tantas as emoções

hoje vividas...

As promessas aqui feitas,

as palavras de caridade proferidas,

serão apenas recordações do dia de ontem...

Todas as atitudes estarão esquecidas...

Seguiremos em frente em mais um corrida...

Quantos de nós voltaremos a essa noite eu não sei,

Só sei que continuamos na lida!

Para isso existimos!

Para acreditar que tudo isso pode mudar...

Para o grande milagre esperar,

em que cada um de nós

pelo outro vai se importar;

Existimos para acreditar que um dia

a hipocrisia deixara de imperar

e o amor verdadeiro

em nossos corações vai despertar!

E que um dia, sim,

de mãos dadas todos vamos caminhar

em direção ao paraíso...

Viveremos então por isso:

Um mundo de justiça e paz...

Um reino de amor!

Ali o natal será então verdadeiro...

E não mais uma data vermelha no calendário...

Onde o maior presente

será o abraço sincero

de nossos irmãos viventes...

A poesia será a lei

e o poeta não estará mais assim... solitário!